A desigualdade global e a ideia de renda máxima
Por que comparar os rendimentos de Neymar, Elon Musk e um trabalhador da Tesla pode ser instrutivo – e mobilizador…
Publicado 07/02/2024 às 17:26
Num tempo em que os esportes atraem fortunas, chamaram a atenção no ano passado os salários astronômicos pagos pelo futebol saudita. Neymar, por exemplo, receberá, no Al Hilal, 327 milhões de dólares por dois anos. São R$ 2,2 milhões (ou 1.571 salários mínimos) por dia. Mas um texto curioso publicado no site Conterpunch compara estes valores aos dos grandes bilionários – como Elon Musk, que acumulou, até o fim do ano passado, US$ 229 bilhões. Se o rendimento do jogador brasileiro fosse integralmente pago, durante todo o compromisso, ao magnata sul-africano, a fortuna deste passaria a… US$ 229,3 bilhões – ou seja cresceria “míseros” 0,13%. Ainda mais revelador, claro, é comparar os ganhos de Musk (US$ 252 milhões por dia) com os de um operário da Tesla. No início de janeiro, a unidade da Califórnia abriu vaga para um “produtor associado”. Requeria jornada semanal de 42 horas, “capacidade de trabalhar rápido” e de “inclinar-se, deitar, dobrar-se, alcançar, agachar-se, ajoelhar-se, torcer-se e rastejar”, expondo-se a “materiais perigosos usados no processo de pintura”. Para auferir o que Musk amealha a cada dia, este esforçado e diligente operário precisará trabalhar… até o ano 4707! A percepção desta desigualdade ultrajante está impulsionando, em várias partes do mundo, a ideia de estabelecer uma renda máxima, acima da qual os valores recebidos seriam integralmente tributados.